Ruanda está na vanguarda da reciclagem de lixo eletrônico na África

O uso da tecnologia cresce na África tão rápido quanto ao acúmulo de resíduos, mas apenas dois países africanos têm centros de reciclagem de lixo eletrônico: a pioneira África do Sul e agora Ruanda, que chegou à vanguarda.


EFE

Hope Mafaranga, Bugesera (Ruanda) - "A Ruanda não é nenhuma exceção. A dependência da nova tecnologia cresceu em todos os setores da economia, o que provocou um aumento dos resíduos eletrônicos", explicou o ministro de Meio Ambiente ruandês, Vicent Biruta, em uma visita de vários veículos de imprensa ao país.

Funcionairos trabalham em um centro de desmontagem de eletrônicos de Bugesera, em Ruanda. EFE/ Hope Marafanga
Funcionairos trabalham em um centro de desmontagem de eletrônicos de Bugesera, em Ruanda. EFE/ Hope Marafanga

Em dezembro do ano passado, o Governo inaugurou uma fábrica de reciclagem em Bugesera (leste), onde se acumulam montanhas de televisores e computadores, como um cemitério de eletrodomésticos, supervisionadas por operários de macacão azul e capacete amarelo.

Os funcionários da fábrica extraem as partes que podem ser reutilizadas dos aparelhos eletrônicos, as que continuam em boas condições, e montam novas máquinas e acessórios que são doados a colégios e também vendidos.

Se em 2014 foram acumulados no mundo todo quase 42 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, em 2018 essa quantidade deve chegar a quase 50 milhões de toneladas, pois as estimativas apontam para um crescimento anual de 4% a 5%, sobretudo em países em desenvolvimento, lembrou o ministro de Meio Ambiente.

Esses resíduos contêm materiais altamente poluentes e prejudiciais, tanto para o meio ambiente como para o ser humano, se não forem administrados corretamente, como mercúrio, chumbo, arsênio, cádmio e selênio.

"Uma gestão adequada destes resíduos permite recuperar metais preciosos como ouro, prata, platina, paládio, além de cobre e chumbo, e permite criar novos negócios e oportunidades de emprego", continuou Vincent.

Ruanda, que já aposta em rigorosas medidas ambientais como proibir as sacolas de plástico, não ficou apenas na luta contra estes resíduos tão contaminantes.

"De fato, Ruanda fez um inventário detalhado da situação de desperdício de eletrônicos no país, e desenvolveu uma estratégia que permite ter centros de gestão e coleta que respeitam o meio ambiente", comentou durante a visita o gerente do programa de resíduos eletrônicos do Governo, Olivier Mbera.

"Além disso, o Governo investiu quase US$ 1,5 milhão na fábrica de resíduos, que dá trabalho a 300 pessoas em "empregos verdes", e oferece bolsas a estudantes", explicou Mbera.

Cada distrito do país conta com um centro de coleta de lixo, que depois é transportado às instalações de Bugesera.

"A fábrica de resíduos eletrônicos é tão avançada que recicla 15 mil toneladas por ano. Uma gestão de lixo eletrônico sustentado é uma ferramenta robusta para o crescimento ecológico, onde tanto consumidores como recicladores desempenham seu papel", explicou o gerente.

Os metais mais preciosos, como ouro e prata, são extraídos, reciclados e vendidos para poder fabricar outros produtos.

"Houve um grande aumento de uso de tecnologias da informação, o que provocou uma grande demanda por produtos novos", afirmou o ministro de Informação, Comunicação e Tecnologia ruandês, Jean de Dieu Rirangirwa.

"Além disso, enquanto as pessoas querem tecnologias mais novas, o período de uso desses produtos diminui progressivamente. Assim, os aparelhos velhos e desfasados se tornam obsoletos e são desprezados em grandes quantidades", prosseguiu Rirangirwa.

Na maior parte das vezes, jogam o lixo eletrônico junto com o lixo comum, e ele acaba em lixões convencionais, uma realidade que as autoridades também querem mudar.

"Seja como for, a nova instalação de Bugesera quer fazer com que o desenvolvimento tecnológico se baseie também no reaproveitamento e na reciclagem, para que o meio ambiente seja puro e saudável em Ruanda", insistiu o ministro de Informação.

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